terça-feira, 5 de julho de 2011

Educação em Engenharia: algumas idéias e a semente para um projeto possível

Síntese do artigo:
Revista de Ensino de Engenharia


Marcius F. Giorgetti





A partir da reforma de 1968, o sistema universitário oficial estruturou-se, ou tentou se estruturar, segundo o modelo das universidades de pesquisa norte-americanas. Nesse processo, a atividade de pós-graduação ganhou grande prevalência sobre a de graduação. Juntamente com as inegáveis vantagens trazidas por essa reforma, foram importadas também algumas desvantagens para a educação do engenheiro.

No Brasil, esse fenômeno aconteceu nas escolas de engenharia, tanto em IESs oficiais, que foram as primeiras a sentir, intramuros, a influência da pós-graduação, quanto no sistema privado, diante da leitura inapropriada do estímulo oficial pró-titulação, nem sempre acompanhada da necessária qualificação apropriada para o exercício da docência.

Uma autocrítica interessante feita nos Estados Unidos por uma comissão de líderes educacionais, coordenada pelo eminente professor Ernest L. Boyer, parte de uma pergunta bastante agressiva antes de oferecer as suas recomendações: “As instituições de ensino e pesquisa estão enganando os seus estudantes?” A conclusão, embora rebatida por alguns críticos, foi que as universidades de pesquisa frequentemente dedicam atenção insuficiente ao ensino de graduação,concentrando- se principalmente na pesquisa e nos programas de pós-graduação. O relatório “Reinventando a educação de graduação: um projeto para as universidades de pesquisa dos Estados Unidos” incentiva as universidades de pesquisa a instituírem um novo modelo educacional, que tire proveito dos imensos recursos dos programas de pós-graduação e pesquisa para estruturar experiências de aprendizagem ativa para os estudantes de graduação.”

“Recomendações do Relatório Boyer para as universidades de pesquisa"

O relatório da Comissão Boyer, “Reinventando a educação de graduação: um projeto para as universidades de pesquisa dos Estados Unidos”, recomenda que as universidades de pesquisa adotem as dez práticas seguintes:

1. Adote como padrão a aprendizagem baseada na investigação;

2. Construa um primeiro ano baseado no questionamento;

3. Edifique sobre a fundação desse primeiro ano;

4. Remova as barreiras à educação interdisciplinar;

5. Associe habilidades de comunicação às atividades do curso;

6. Use a tecnologia da informação de forma criativa;

7. Inclua uma experiência de síntese;

8. Treine os estudantes de pós-graduação como aprendizes de docência;

9. Altere o sistema de promoção do corpo docente;

10. Cultive um senso de comunidade.”

Caminhos alternativos




Além do potencial complicador das diferenças de desenvolvimento cognitivo entre alunos das escolas maiores e das escolas menores, há outros fatores a considerar.

Por exemplo, estudantes de cursos noturnos que trabalham durante o dia todo têm muito pouco tempo para estudar fora da escola. Portanto, não adianta apenas dar aula com o objetivo de esgotar todo o programa, com a esperança de que os alunos estudarão em casa. É preciso que as atividades sejam dimensionadas e distribuídas de forma compatível. O tempo de contato em sala de aula precisaria, idealmente, ser usado como um ato educacional completo, compreendendo motivação, conexão com o material didático estudado anteriormente, exposição à nova informação, construção do conhecimento, exercício no uso do conhecimento construído e conclusão.

Para isso os programas precisam ser dimensionados (e/ou abordados) de forma adequada. Uma estratégia que venho usando com bastante sucesso nos cursos que tenho coordenado, mesmo com o uso de ementas e programas tradicionais, é a seguinte:
Estimulo os docentes a refletirem sobre cada disciplina que lecionam, identificando o que do programa é essencial e o que é cultural ou complementar. Normalmente, o resultado é do seguinte tipo: 30 a 35% do conteúdo são considerados essenciais. Minha sugestão: gaste 65 a 70% do tempo com a parte essencial do conteúdo e 30 a 35% do tempo com a parte complementar.



Conclusão



O autor está convencido de que é possível se conseguir uma enorme melhoria na qualidade da aprendizagem nos cursos menores de engenharia do país, mas acha que, para tanto, seria necessário um grande investimento no desenvolvimento de materiais didáticos apropriados, pedagogia apropriada e metodologias apropriadas. Paralelamente, os programas de pós-graduação precisariam participar dessa ação diagnóstica e de produção para se preparar para a incorporação do treinamento adequado dos futuros docentes, a maioria deles destinada às escolas com cursos menores.
O benefício seria incalculável, pois viria a atingir, com o potencial aumento de eficácia educacional,85% dos estudantes do país.

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